De acordo com o dicionário Aurélio, família significa “[...] o pai, a mãe e os filhos; pessoas unidas por laços de parentesco, pelo sangue ou por aliança; [...] comunidade formada por um homem e uma mulher, unidos por laço matrimonial, e pelos filhos nascidos dessa união”. Mas a noção contemporânea torna o significado de família bem mais amplo, portanto, de acordo com o mesmo dicionário: “Grupo formado por indivíduos que são ou se consideram consangüíneos uns dos outros, ou por um descendente de um tronco ancestral comum e estranhos admitidos por adoção”.
A família vem passando por uma série de transformações e mudanças ao longo da história, principalmente a partir dos ideais da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. São influências sociais, econômicas, culturais, políticas e religiosas.
Um dos grandes desafios da atualidade gira em torno das novas configurações familiares ou novas famílias, novos arranjos familiares, formas de ligação afetiva entre sujeitos onde existe, ou não, uma forma de exercício da parentalidade que foge aos padrões tradicionais: famílias monoparentais, homoparentais, adotivas, recompostas, concubinárias, de produções independentes, e tantas outras.
A família da atualidade é caracterizada por redefinições de papéis, hierarquia e sociabilidade, permitindo diferentes configurações familiares, que estão centradas na valorização da solidariedade, da fraternidade, da ajuda mútua nos laços de afeto e amor (Fonseca, 2002, Rizzini, 2002).
Temos, ainda, as mudanças que afetam diretamente as condições de procriação tais como: barriga de aluguel, embriões congelados, procriação artificial com doador de esperma anônimo e, muito mais breve do que se pensa, a clonagem.
Estas modificações e reestruturações na organização familiar apontam a conclusões que apesar de ainda ser prevalecente na sociedade atual, a família nuclear é um modelo idealizado e reproduzido culturalmente, mas que está passando há longo tempo por um período de transição. Momento este ligado a uma época onde impera o individualismo, a globalização, o consumismo desenfreado, a nova ordem econômica mundial, as novas tecnologias e outros fatores que modificam as relações de trabalho, as relações pessoais e conseqüentemente as relações familiares.
Com isso o que se observa não é exatamente o enfraquecimento da instituição familiar e sim o surgimento dos novos modelos e arranjos familiares.Mesmo com todas as modificações vigentes, o modelo de família nuclear ainda está arraigado culturalmente nas famílias e nas pessoas. As diversas transformações refletidas no campo familiar tem gerado conflitos internos à família, sendo que... ao homem criado desde pequenino para ser “macho”, “durão” provedor e protetor, se cobra de repente que seja “sensível”, colaborador... Criado para competir na “selva” do mercado de trabalho é agora convidado a dar mamadeiras, a trocar fraldas. Criado par prover, agora dele se espera que se reveze com a mulher nos cuidados com o bebê, enquanto ela sai, trabalha e ganha seu próprio dinheiro. À mulher criada desde pequenina para ser “suave”, “sensível”, “compreensiva” e “meiga”, se cobra de repente que seja “indiferente”, “competitiva”, “agressiva” no mercado de trabalho e que progrida profissionalmente (Cerveny, 1997, p.64-65).
No modelo dito “tradicional”, homens e mulheres tinham funções definidas. O pai que trabalhava fora dirigia o carro e passeava com a família nos finais de semana, era o provedor que detinha um poder inquestionável. Os cuidados da casa eram garantidos pela “rainha do lar”.
Neste arranjo, todos pareciam felizes e tudo concordava com uma ordem imutável. Unidos para sempre, para o melhor e para o pior, pelos laços sagrados do matrimônio, as desavenças do casal não constituíam ameaças à estabilidade do lar. Até hoje este modelo é defendido por muitos como o único capaz de sustentar a ordem social e de produzir subjetivações sadias. O certo é que o ambiente familiar, independentemente de seu modelo, é a base de construção da cidadania de cada indivíduo.
www.franca.unesp.br/ANTIGOS E NOVOS ARRANJOS FAMILIARES..
COSTA, A. C. G. A família como questão social no Brasil. In: KALOUSTIAN, S. M. (org.) Família brasileira a base de tudo.7.ed. São Paulo: Cortez, 2005
Mauro Lúcio Ribeiro Lima